O Pai Natal não existe

Geral
24/09/2020

As férias foram uma pausa preciosa num período de profunda conturbação das nossas vidas, foi como acordar dum pesadelo. Fomos para férias, como sempre fomos. Afinal foi possível manter uma das nossas rotinas. Vai tudo ficar bem!

Agora, regressámos e estamos em plena rentrée.

Trouxemos das férias a expetativa de que, mais tarde ou mais cedo, tudo retomaria a normalidade de forma gradual.

Voltámos às empresas, às escolas e a um “novo normal”. Mas alguns já tiveram de retornar a casa e paira no ar a ameaça de voltarmos a adormecer e termos o mesmo pesadelo outra vez. Sentimos alguma frustração por não podermos voltar a ter a realidade que tínhamos antes.

Mas, ficar tudo bem não implica necessariamente voltarmos a ser como éramos.

Lembra-se de como se sentiu no momento em que lhe disseram ou quando percebeu por sua conta, durante a infância, que o Pai Natal afinal não existia?.

Ou caso não se lembre do efeito que teve em si, consegue compreender o efeito que teve ou que virá a ter sobre os seus filhos? Até pode acontecer que nunca lhes tenha dito que essa personagem é real, mas a rede social e o contexto em que vivem diariamente leva-os, inevitavelmente, a criar essa expetativa em algum momento.

E quando essa expetativa é (ou foi) defraudada, caso consideremos a existência do Pai Natal uma ideia positiva, instalam-se diversos sentimentos dentro de nós, com maior ou menor intensidade: frustração, tristeza, negação ou evitamento da realidade, desapontamento, etc. Só que o Pai Natal não existe mesmo e essa é a realidade.

No entanto, relativamente a este tema, ficou tudo bem. Conseguiu aceitar a ideia de que, afinal, os presentes eram comprados pelos seus familiares e que não existiam renas voadoras. Já passou por isto antes.

O processo mental que ocorre em cada pessoa é distinto e exclusivo, como uma impressão digital e é a soma desses processos que determina o sucesso ou insucesso da transformação das organizações. No fundo, as empresas só conseguem transformar-se verdadeiramente quando cada um dos seus colaboradores acolhe uma nova realidade.

E cada um de nós tem de ter ferramentas para lidar com os sentimentos que surgem quando sabemos que o Pai Natal não existe, ou quando percebemos que vamos ter de conviver com esta pandemia durante muitos meses ou até anos.

Capacidade de aceitação: resistir à nova realidade, esperar tempo demais para mudar, entrar em negação ou simplesmente fantasiar podem significar apenas dificuldade em aceitar o novo paradigma, isso pode gerar problemas mais complexos, como ansiedade ou depressão. Não há uma fórmula milagrosa e na verdade, funciona um pouco como o processo do luto, diferente de pessoa para pessoa e com duração também diferenciada..

Perante a necessidade de adotar um novo contexto como o “novo normal”, deve tentar projetar-se nesse contexto: “Como será, se eu passar a trabalhar sempre em casa?”, “Como será, se deixarmos de ter reuniões presenciais de equipa tão regularmente?” – essa projeção vai permitir-lhe começar a construir hipóteses que podem ser racionalizadas e transformadas em ações.

Depois é importante dar pequenos passos relativamente às hipóteses que equacionou, implementando-as e validando a sua exequibilidade: se correr bem é motivador para dar mais alguns passos, se correr mal a consequência não deve ter grande impacto para lhe permitir não recuar e tentar outras hipóteses.

Isto vai permitir-lhe a construção de novas rotinas e a reconquista da confiança acerca do novo paradigma.

Resiliência: em muitos momentos do processo de mudança vão surgir novos desafios, nomeadamente, nostalgia, cansaço ou mesmo incapacidade de lidar com alguns aspetos da nova situação e isso pode conduzir ao retrocesso do processo de mudança. Se assim for, não terá passado duma boa intenção. Quantos de nós não começaram já a fazer aquela dieta, que depois abranda e finalmente para, trazendo-lhe ainda mais peso do que tinha no seu arranque?

A resiliência é uma competência que deve ser desenvolvida ao longo da vida e incutida desde cedo nos mais novos, revelando a nossa capacidade em persistir e agir com determinação, mesmo quando surgem contrariedades nos planos que desenhámos para os nossos projetos. Fica algumas sugestões para desenvolver esta competência:

A primeira trata-se dum exercício mental em que deve tentar identificar o momento exato em que a sua convicção é abalada, registe-o nas suas notas para que esse momento se materialize e ganhe “forma”, permitindo-lhe lidar com ele. Ao fazer isto está a adquirir consciência dos momentos em que a competência da resiliência deve ser utilizada.

Tente depois identificar algum padrão nas suas notas ou, de algum modo, encontrar uma possível explicação para esse sentimento, pois isso poderá ajudar a resolver a sua origem (por exemplo: perceber que os seus momentos de hesitação estão sempre relacionados com “acordar cedo”, podendo modificar a sua agenda).

Finalmente, quando esse “momento” ou outro similar surgir e tomar consciência dele, arrisque o desconforto (por exemplo: perante a tentação de desligar o despertador, desta vez percebeu que esse “momento” está presente e reúne energia para se levantar). Vai exigir força de vontade e vai sentir-se como numa primeira ida ao ginásio para trabalhar aquele “músculo específico”.

Vai ficar tudo bem, mas nada será como dantes!

O Pai Natal não existe e provavelmente, a sua empresa este ano não vai ter jantar de Natal, mas o novo normal este ano vão ser os eventos remotos.
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E nada será como dantes.
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