Agora, regressámos e estamos em plena rentrée.
Trouxemos das férias a expetativa de que, mais tarde ou mais cedo, tudo retomaria a normalidade de forma gradual.
Voltámos às empresas, às escolas e a um “novo normal”. Mas alguns já tiveram de retornar a casa e paira no ar a ameaça de voltarmos a adormecer e termos o mesmo pesadelo outra vez. Sentimos alguma frustração por não podermos voltar a ter a realidade que tínhamos antes.
Lembra-se de como se sentiu no momento em que lhe disseram ou quando percebeu por sua conta, durante a infância, que o Pai Natal afinal não existia?.
Ou caso não se lembre do efeito que teve em si, consegue compreender o efeito que teve ou que virá a ter sobre os seus filhos? Até pode acontecer que nunca lhes tenha dito que essa personagem é real, mas a rede social e o contexto em que vivem diariamente leva-os, inevitavelmente, a criar essa expetativa em algum momento.
E quando essa expetativa é (ou foi) defraudada, caso consideremos a existência do Pai Natal uma ideia positiva, instalam-se diversos sentimentos dentro de nós, com maior ou menor intensidade: frustração, tristeza, negação ou evitamento da realidade, desapontamento, etc. Só que o Pai Natal não existe mesmo e essa é a realidade.
No entanto, relativamente a este tema, ficou tudo bem. Conseguiu aceitar a ideia de que, afinal, os presentes eram comprados pelos seus familiares e que não existiam renas voadoras. Já passou por isto antes.
O processo mental que ocorre em cada pessoa é distinto e exclusivo, como uma impressão digital e é a soma desses processos que determina o sucesso ou insucesso da transformação das organizações. No fundo, as empresas só conseguem transformar-se verdadeiramente quando cada um dos seus colaboradores acolhe uma nova realidade.
E cada um de nós tem de ter ferramentas para lidar com os sentimentos que surgem quando sabemos que o Pai Natal não existe, ou quando percebemos que vamos ter de conviver com esta pandemia durante muitos meses ou até anos.
Capacidade de aceitação: resistir à nova realidade, esperar tempo demais para mudar, entrar em negação ou simplesmente fantasiar podem significar apenas dificuldade em aceitar o novo paradigma, isso pode gerar problemas mais complexos, como ansiedade ou depressão. Não há uma fórmula milagrosa e na verdade, funciona um pouco como o processo do luto, diferente de pessoa para pessoa e com duração também diferenciada..
Perante a necessidade de adotar um novo contexto como o “novo normal”, deve tentar projetar-se nesse contexto: “Como será, se eu passar a trabalhar sempre em casa?”, “Como será, se deixarmos de ter reuniões presenciais de equipa tão regularmente?” – essa projeção vai permitir-lhe começar a construir hipóteses que podem ser racionalizadas e transformadas em ações.
Depois é importante dar pequenos passos relativamente às hipóteses que equacionou, implementando-as e validando a sua exequibilidade: se correr bem é motivador para dar mais alguns passos, se correr mal a consequência não deve ter grande impacto para lhe permitir não recuar e tentar outras hipóteses.
Isto vai permitir-lhe a construção de novas rotinas e a reconquista da confiança acerca do novo paradigma.
Resiliência: em muitos momentos do processo de mudança vão surgir novos desafios, nomeadamente, nostalgia, cansaço ou mesmo incapacidade de lidar com alguns aspetos da nova situação e isso pode conduzir ao retrocesso do processo de mudança. Se assim for, não terá passado duma boa intenção. Quantos de nós não começaram já a fazer aquela dieta, que depois abranda e finalmente para, trazendo-lhe ainda mais peso do que tinha no seu arranque?
A resiliência é uma competência que deve ser desenvolvida ao longo da vida e incutida desde cedo nos mais novos, revelando a nossa capacidade em persistir e agir com determinação, mesmo quando surgem contrariedades nos planos que desenhámos para os nossos projetos. Fica algumas sugestões para desenvolver esta competência:
A primeira trata-se dum exercício mental em que deve tentar identificar o momento exato em que a sua convicção é abalada, registe-o nas suas notas para que esse momento se materialize e ganhe “forma”, permitindo-lhe lidar com ele. Ao fazer isto está a adquirir consciência dos momentos em que a competência da resiliência deve ser utilizada.
Tente depois identificar algum padrão nas suas notas ou, de algum modo, encontrar uma possível explicação para esse sentimento, pois isso poderá ajudar a resolver a sua origem (por exemplo: perceber que os seus momentos de hesitação estão sempre relacionados com “acordar cedo”, podendo modificar a sua agenda).
Finalmente, quando esse “momento” ou outro similar surgir e tomar consciência dele, arrisque o desconforto (por exemplo: perante a tentação de desligar o despertador, desta vez percebeu que esse “momento” está presente e reúne energia para se levantar). Vai exigir força de vontade e vai sentir-se como numa primeira ida ao ginásio para trabalhar aquele “músculo específico”.
O Pai Natal não existe e provavelmente, a sua empresa este ano não vai ter jantar de Natal, mas o novo normal este ano vão ser os eventos remotos.
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