Mesmo antes do COVID-19 emergir, o conceito do emprego estável já era uma ideia do passado. Vemos claramente agora que a pandemia só aumentou a urgência de exponenciar esforços de reskilling, seja para acompanhar a velocidade de transformação, agora em curso, ou para dominar os diferentes modelos de trabalho que fazem parte do nosso dia-a-dia.
Mais e mais vemos organizações de todos os setores preocupadas com o tema da aprendizagem. Sabemos que a cultura e os líderes têm um papel crítico para que os colaboradores estejam motivados para aprender, mas sabemos também, por experiência própria e sabedoria popular, que aprender é difícil.
O início da jornada de aprendizagem contínua começa em cada um de nós. Não é assim tão difícil tornarmo-nos “aprendizes” fortes, mas precisamos de adoptar o mindset certo e desenvolver esforços constantes em torno deste tema.
Primeiro o mindset. Ele tem uma influência tremenda no nosso comportamento, muitas vezes de forma inconsciente. Para sermos mais fortes na aprendizagem precisamos de mindset de crescimento e de mindset de curiosidade.
Um mindset de crescimento sugere que podemos crescer, expandir, evoluir e mudar. Inteligência e capacidade não são pontos fixos, são características que cultivamos. Um mindset de crescimento liberta-nos da expectativa de sermos perfeitos. Falhas e erros não são indicativos dos nossos limites, mas sim ferramentas que ajudam ao nosso desenvolvimento.
Um mindset de curiosidade também é fundamental, porque a curiosidade é o nosso motor de aprendizagem. E pode ser cultivada, mesmo naqueles que não se consideram naturalmente curiosos. A curiosidade é a busca pela tomada de consciência, a abertura das ideias e a capacidade de fazer conexões entre conceitos diferentes.
Depois a prática. Para sermos mais eficazes e facilitar o processo há alguns comportamentos de boas práticas que nos ajudam, enquanto “aprendizes”, a tirar o máximo das nossas experiências. Estabelecer objetivos claros de aprendizagem, dedicar e proteger o tempo para aprender, obter feedback, reflexão e avaliação do nosso progresso, são críticos para a jornada de “lifelong learning”.
Mas o tema chave que gostaria de desenvolver tem a ver com a prática deliberada, um dos comportamentos mais relevantes para acelerarmos a forma como aprendemos, retemos e transferimos.
A prática, especialmente a prática em contexto, é absolutamente fundamental para a aprendizagem. Muitos de nós acreditamos que a prática faz a perfeição, mas esse provérbio clássico não é totalmente correto. Como diz Richard Turner, um absoluto fenómeno na arte da magia com cartas, “Prática perfeita faz a perfeição”.
No mundo em que vivemos hoje não precisamos de ser perfeitos como o documentário DEALTnos mostra que os humanos podem ser. Mas é importante compreender que fazer as coisas uma e outra vez faz pouco para construir suas habilidades. Em vez disso, a sugestão que fazemos é que o nosso foco seja em praticar atividades desafiantes no sentido de ampliar a nossa expertise.
Em vez de treinarmos várias vezes a nossa apresentação, treinemos o aspeto específico da nossa apresentação que precisa de ser melhorado. Em vez de desenvolver as nossas competências fortes, devemos investir no upgrade das que são mais frágeis. Em vez de fazermos uma jornada intensiva na tentativa de aprendizagem genérica, devemos apostar numa jornada espaçada e consistente de aprendizagem específica.
Se elas apenas tornam as coisas um pouco mais fáceis [ver um video ou ouvir um webinar], a aprendizagem será uma ilusão. Desafiem e exijam melhor, porque só sendo desafiantes é que as aprendizagens podem ser retidas e transferidas.