Enquanto país, demorámos pouco mais de uma semana a mudar comportamentos que estavam profundamente enraizados em nós (e como planeta, foram apenas algumas semanas), reagindo a uma brusca alteração de contexto que agora se apazigua. E agora? Quanto tempo irá demorar a mudança comportamental que nos permitirá conviver em pleno com esta nova realidade?
Estão gradualmente a ser levantadas todas as restrições associadas à pandemia e estas serão algumas das dúvidas que nos assaltarão na nova realidade: devo regressar aos apertos de mãos, aos abraços e aos beijinhos a quem não me é assim tão próximo?; como posso estar integrado no meio de um aglomerado de pessoas?; sinto-me confortável em entrar numa loja que está cheia de clientes?; quão próximo ou distante dos meus colegas de trabalho devo estar?; vou conseguir criar novas rotinas de trabalho misto com dias remotos e dias presenciais?; etc.
Claro que o bom senso nos diz que a mudança comportamental que empreendemos face à pandemia global foi instantânea porque estava em risco a nossa vida, era uma emergência. O bom senso diz-nos também que esse não será o cenário desejável para procedermos a alterações comportamentais na nossa vida pessoal ou profissional e que, idealmente, deve existir antecipação, planeamento e ponderação. Todavia, na minha opinião, a questão de fundo não é essa.
Até porque, por vezes (muitas vezes) está em risco a nossa saúde, por vezes (muitas vezes) está em risco a vida de uma organização, até sabemos que comportamentos devem ser alterados e esboçamos planos de ação muitas vezes sofisticados e detalhadíssimos, mas… a mudança comportamental, pura e simplesmente, não acontece. Porquê?
Será que só mudamos o nosso comportamento quando estamos “entre a espada e a parede”?
Será que só mudamos o nosso comportamento quando estamos mesmo, mesmo aflitos, como parece ser a popular tradição portuguesa?
Diria que não, vejamos alguns exemplos.
O que acontece, quando baixamos (ou subimos) a temperatura de uma sala, à força anímica de quem está no seu interior? Ou à forma como essas pessoas comunicam entre si, se aumentarmos ou diminuirmos o volume do som ambiente?
E como será que reajo se a porta da sala de reuniões estiver fechada sempre que chego atrasado ao compromisso agendado com os outros intervenientes?
Ou quando queremos que uma plateia deixe de falar em português e passe a falar em inglês? Certamente não precisamos de colocar ninguém em “risco” e podemos fazer como está descrito aqui (algures no último terço do artigo).